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8.5.08

Mudou-se

"Coisas do Campo" mudou-se para http://ronairocha.wordpress.com
Infelizmente, a emenda e melhoria que eu pretendi fazer foi pior que o soneto, e por isso decidi experimentar o wordpress. Bem que o Gilson avisou...
Movi para o novo blog o material mais longo que estava postado aqui. Não pude mover os comentários, e por isso deixo esse "Coisas" por aqui mesmo, do jeito que está.
Assim, para seguir com as coisas do campo, clique aqui.

20.4.08

Prof. Gilberto Aquino Benetti

O Prof.  Gilberto Aquino Benetti, ex-reitor da UFSM, faleceu. O velório será realizado em Santa Maria, na segunda-feira, dia 21.
Tive o privilégio de trabalhar em uma equipe dirigida por Gilberto Aquino Benetti durante os quatro anos de seu reitorado. Nessa hora a gente fica pensando em tentar dizer algo adequado sobre sua importância na história da UFSM. Ele inaugurou um novo período na história da universidade, no qual se procurava conciliar as demandas de democratização com as exigências específicas do trabalho universitário. Mas é difícil contar essa história agora e em poucas linhas. Naquele período, no final dos anos oitenta, nasceu entre nós não apenas uma amizade profunda, daquelas que valem para todas as horas e que sobrevivem a longas ausências, mas um sentimento de irmandade no que diz respeito a ideais acadêmicos e humanos. A morte de Benetti, em plena atividade profissional vinculada a esses ideais acadêmicos e humanos, é vivida não apenas como momento de profunda dor e tristeza pela perda de sua presença entre nós, mas como ocasião para que a gente renove, em sua memória, o espírito desses valores que ele nos ensinava em cada dia de convivência.

14.4.08

Uenebê

Na Uenebê os estudantes que ocupavam a Reitoria por onze dias, pedindo "que se vayan todos", depois de avaliar a vitória - Timóteo, Mamiya e demais saíram - resolveram ficar. Agora querem o paritário. O novo reitor, temporário, a ser nomeado pelo Ministro, pode ficar sem o gabinete.
Na esteira da Uenebê e da crise das fundações de apoio o movimento estudantil universitário, que andava meio parado, ganhou uma bandeira: pelo paritário.
Já vi esse filme, morri umas quantas vezes. 
"Lá se vai meu xale outra vez", dizia a Rainha Louca.


"Na cidade gaúcha de Santa Maria..."

Alguns leitores do blogue reclamaram que foram comprar a Época nas bancas na tarde de hoje e havia sido um rapa maior do que a Rolling Stone do Padre Lauro, não havia uma só para contar o causo. Conto o causo, ou melhor, deixo por conta da revista, o trecho mais importante:
"Na cidade gaúcha de Santa Maria, o Prefeito Valdeci Oliveira (PT) contratou sem licitação o Idort para prestar 'consultoria administrativa e financeira' ao município. Pagou pelo serviço R$560 mil. Segundo a própria prefeitura de Santa Maria, o Idort mandou oito consultores para a cidade. Entre eles estava Eduardo Grin, funcionário da Intercorp e braço direito de Luís Lima na empresa. A Prefeitura de Santa Maria disse não saber se o Idort subcontratou a Intercorp, mas Grin afirmou a Época que nunca foi funcionário do Idort. Entre 1999 e 2003, ele foi funcionário registrado da Intercorp."
O Idort é uma empresa veneranda, de mais de setenta anos de praça, e tem no seu conselho consultivo até o Antonio Ermínio de Morais.
Veja como ela se apresenta:
"Somos a primeira empresa de treinamento corporativo do Brasil que, com seu pioneirismo, transformou tradição em inovação.

Fundada em 1931 por um grupo de intelectuais, educadores e empresários em resposta a crise de 1929, introduziu no Brasil o planejamento, a pesquisa e métodos de trabalho que somente eram vistos nos países desenvolvidos da época.

Há mais de 70 anos, o IDORT, uma instituição de caráter educativo, científico-cultural, de fins não econômicos, contribui para o desenvolvimento e a qualificação da administração pública e privada no Brasil

Para isso, utiliza os métodos e tecnologias mais recentes, adequadas à realidade brasileira e à economia global, além de ser a maior empresa provedora de conteúdos do Brasil e possuir um dos maiores quadros de consultores de reconhecimento internacional."

Veja agora a apresentação que a Intercorp faz de si mesma:
"Desde 1993, a Intercorp trabalha ajudando grandes corporações a fomentar suas capacidades de gerenciamento e inovação, tornando-as mais inteligentes, capazes de competir em um mercado cada vez mais dinâmico e cheio de incertezas.  Ao longo desses anos de trabalho e intensa vivência em ambientes organizacionais complexos, estudamos, desenvolvemos e aplicamos conceitos, métodos e instrumentos para o desenvolvimento da competitividade. Contudo, entendemos que para acompanhar o ritmo das mudanças, não basta dominar conceitos e se adaptar às novas realidades; é preciso criar novos paradigmas, novas formas de gestão, de comunicação, de relacionamento, de produção e de aplicação de conhecimento – é preciso INOVAR. É essa convicção que orienta o trabalho da Intercop e que faz com que estejamos sempre à frente, aliando o tradicional ao novo; buscando, incessantemente, novas formas de auxiliar as organizações a produzir inovações e potencializar a sua capacidade competitiva."
O que a imprensa anda investigando é o fato dos diretores das duas instituições negarem haver relações entre elas.
O que me deixa curioso e cheio de dúvidas é essa história de "grandes corporações" e "mercado dinâmico". 
Vou ali carnear uma ovelha.

Novas regras

A patronagem de Brasília resolveu baixar novas regras para o funcionamento das fundações. A portaria sai amanhã no Diário Oficial. Uma das novidades, parece, é que os Consus vão ter que dar mais palpites. 
Enquanto isso os estudantes da UNB fincam pé no paritário. Tive que tirar a postagem sobre o voto paritário por causa de um virus anexado ao comentário que alguém deixou. Quando der, volto ao tema.

Época

A revista Época desta semana traz uma matéria sobre a Finatec e suas relações com o consultor Luis Lima e sua empresa Intercorp que tem relações com outra fundação, o Idort, que tem relações com prefeituras e consultorias. E tudo isso veio dar em Santa Maria, também, cuja prefeitura fez um contrato de uns 500 pilas com o seu Luís, um pensador gaúcho radicado em Brasília. A ver. Vai dar o que falar.

Mamiya

Precisei remover a postagem sobre a UNB e Mamiya, por causa do comentário, que levava a uma página com virus. Mais adiante volto ao tema.

13.4.08

Um outro mundo (II)

Com essa conversa aqui debaixo sobre a chinesada me esqueci de contar o causo: pois em Santa Maria, daqui a uns dias, vai acontecer um Forum Mundial da Educação. Daí o assunto dos sonhos e a guerra dos slogans:
a) um outro mundo é possível;
b) um mundo, um sonho;
c) um mundo, muitos sonhos;
d) se você está preso no sonho de outro, está perdido.
A primeira alternativa é do Forum Social Mundial; a segunda é o lema olímpico de Pequim; a terceira é dos opositores a Pequim; a quarta é de Gilles Delleuze. 
Qual será a de Santa Maria? Vou ver se descubro.

Um outro mundo

A Folha de hoje traz um artigo de Slavoj Zizek intitulado "O Tibete não é tudo isso". O artigo dá o que pensar. Ele questiona os lugares comuns que a imprensa veicula sobre os "fatos recentes no Tibete", a saber, aqueles relacionados com a ocupação do Tibete pela China. Zizek enfatiza as medidas de modernização tomadas pela China, diante de um país "feudalista", ao ponto de dizer que "nunca, em toda a história, os tibetanos medianos desfrutaram de um padrão de vida comparável ao que têm hoje." Na parte em que discute a espiritualidade tibetana diz que há hoje um "fascínio pelo Tibete" que o converte em uma "entidade mítica sobre a qual projetos nossos sonho. Assim, quando as pessoas lamentam a perda do autêntico modo de vida tibetano não estão, na verdade, preocupada com os tibetanos reais. O que querem dos tibetanos é que sejam autenticamente espirituais por nós em lugar de nós mesmos o sermos, para continuarmos a jogar nosso desvairado jogo consumista".
Nesse ponto ele invoca Deleuze, que escreveu: "Se você está preso no sonho de outro, está perdido".  E lembra que aqueles que protestam contra a China "estão certos quando contestam o lema olímpico de Pequim, 'Um mundo, um sonho', propondo, em lugar disso, 'um mundo, muitos sonhos'.  Mas eles devem tomar consciência de que estão prendendo os tibetanos em seu próprio sonho, que é apenas um entre muitos outros." 
A partir desse momento Zizek mostra seu verdadeiro alvo e passa a discutir as relações entre o capitalismo chinês e a democracia política.  Digo isso porque essa idéia de fascínio por alguém ou algo autenticamente espiritual pode ser encaixada em muitas outras situações, começando pelo bispo da paróquia. 
Qual é o problema das relações entre o capitalismo chinês e a democracia política? A combinação entre capitalismo e governo comunista teria se mostrado uma benção; com outro tipo de governo a China não estaria chegando aonde está; e nada nos garante, diz Zizek, que a prometida etapa da democracia chegará um dia. Ele conclui perguntando: que tal se a combinação entre o chicote asiático e o mercado acionário europeu se mostrar economicamente eficiente que o nosso capitalismo liberal e assinalar que a democracia, "tal como a conhecemos, não é mais condição e motor do desenvolvimento econômico, e sim um obstáculo a ele?"
Bueno, a democracia, como a conhecemos, deve ser reinventada a cada dia, não? 
Como se diz no campo, a longo prazo todos seremos chineses. Mas isso não quer dizer que todos seremos taipas.

Rolling Stone

Ainda não chegou a nova RS nas bancas. A anterior, que trouxe a ótima matéria de Márcio Rodrigues sobre o Padre Lauro, esgotou-se na maioria das bancas em apenas dois dias. Foi um rapa. Espero que disponibilizem logo o texto no sítio da revista, pois eu mesmo emprestei meu exemplar e acabei ficando a pé. O final da matéria deixou os leitores com gostinho de quero mais. Márcio estudou aqui no Curso de Comunicação Social e pelo comentário dos professores entrou para a lista dos melhores que por ali passaram. Quem sabe daqui a alguns tempos o Márcio volta para continuar a história que ele começou a contar sobre o guru do recanto.

A lógica dos verdadeiros argumentos

"Os pais e os alunos devem participar da eleição para o diretor de sua escola." "Os estudantes universitários devem ter voto paritário na escolha do reitor."
Estas afirmações são sustentadas por muita gente. E, como a grande maioria de afirmações semelhantes, precisam ser defendidas contra aqueles que sustentam a posição contrária. 
Uns e outros deveriam ler o livro de Alec Fisher, "A Lógica dos Verdadeiros Argumentos". Saiu pela Editora Novo Conceito, com tradução de Rodrigo Castro, revisado por Desidério Murcho. A grande novidade desse livro parece estar no cuidado com que ele examina alguns casos concretos de argumentação, que vão desde dissuasão nuclear até a existência de Deus, de trechos de jornal até argumentos de filósofos. 
O título original é "The logic of the real arguments". 
Comprei na Cesma no sábado, por 36 pilas, e do que li até agora, gostei demais.
 

9.4.08

A Filosofia não é uma boa coisa

"... eu diria que a filosofia não é uma boa coisa. É uma grande coisa. Ela pode levar a coisas maravilhosas e ela pode levar a coisas terríveis. Mas isso quer dizer que você aceita seriamente a responsabilidade de tentar pensar profundamente e com integridade".

Hilary Putnam, To Think with Integrity, Farewell Lecture, 4 de maio de 2000.

Em outro campo

Um caso de suicídio de um estudante no campus da UFSC, no ano passado, levou uma professora, Cláudia Drucker, a pensar sobre a relação pedagógica de cada dia, seja nas escolas fundamentais, seja nos campi. Ela escreveu um texto que deve fazer pensar cada um de nós que escolheu a mesma carreira. O texto foi publicado no Diário de Santa Catarina,  em meados de outubro do ano passado, e por isso tomo a liberdade de transcrevê-lo aqui:

Educadores desorientados

Claudia Drucker

Departamento de Filosofia da UFSC

Todo bebê é um recém-chegado a um mundo que lhe pré-existia. A educação consiste precisamente em apresentar o mundo comum e partilhado aos recém-chegados.  O mundo comum e partilhado pode ser chamado “civilização”, um nome que não implica necessariamente um valor positivo.  O recém-nascido, por sua vez,  é sempre um bárbaro –isso tampouco é um juízo de valor.  Sua tendência primeira e espontânea, que talvez nunca desapareça completamente no adulto, é precisamente ignorar todas as realizações da lei, da arte, da ciência, etc.  A criança encontra um mundo de instituições culturais e conquistas várias, ao qual deve ser paulatinamente apresentada para que as aceite.  A tese de Hannah Arendt sobre a educação é que ela tem um papel conservador, no sentido em que oferece um contraponto às tendências naturalmente desorganizadoras de todo recém-chegado.  A criança traz consigo a possibilidade da inovação, mas também o que quisemos precisamente deixar para trás, no sentido em que é cruel e injusto todo grupo de crianças abandonado a si mesmo.  Nem toda herança cultural é preferível a herança nenhuma, mas em geral é. 

Os educadores têm, diante dos pequenos bárbaros, precisamente a responsabilidade de não desistir do mundo.  O professor que não quiser desempenhar este papel será um irresponsável e deveria ser nada menos que proibido de ensinar.  Isso não significa que a escola seja uma forma da vida pública.  Para Arendt, a socialização é tarefa da família, em primeiro lugar.  A cidadania plena começa quando a escolarização termina. A escola se encontra em uma zona intermediária entre a família e o mundo, e entre a infância e a maturidade. A educação é tanto mais útil à democracia quanto menos é diretamente politizada.  A educação voltada para a difusão do conhecimento é mais eficaz na hora de formar cidadãos interessados e conscientes do que a educação que mimetiza os processos decisórios públicos.  Não existe nenhum lado positivo no abandono dos conteúdos básicos da escola, que só ela propaga como ninguém.  Desistir de ensinar português, matemática ou história em troca de alguma outra atividade só prejudica as crianças, na vida pública e privada.

A motivação de Hannah Arendt sempre foi o cuidado com o mundo, ou seja, com o público.  Não há lado público do mundo sem um mínimo de estabilidade dos pontos de referência coletivos.  A educação não visa destruir as divergências, mas canalizá-las de modo que incidam sobre o mesmo mundo, e não sobre as visões privadas, fragmentárias e instáveis de cada indivíduo isolado. É preciso acrescentar algumas considerações de outra ordem às considerações arendtianas, tão voltadas para o lado público da educação.  Há também um lado privado, cujo fracasso afeta o lado público.  A socialização –a insistência para que normas básicas de convivência sejam absorvidas pela criança– também exige a escolarização.  Família e escola esperam que a outra faça a sua parte, e dependem uma da outra.  Não está dando certo.  Há uma grande confusão mental e afetiva no ar, que afeta a socialização e a educação de crianças e jovens adultos.

Conta Nelson Rodrigues que certa vez um carro particular, com uma grã-fina ao volante, deu uma fechada em um ônibus.  Furioso, o motorista do coletivo mandou que ela lavasse um tanque –não só as roupas dentro do tanque, mas o próprio.  A grã-fina obedeceu à recomendação e se tornou uma mulher feliz.  O escritor conta, sob uma forma cômica, uma parábola cujo sentido é: quem veio ao mundo apenas para ser feliz não merece a felicidade.  Quem não quer cumprir nenhuma obrigação além das inevitáveis desperdiça sua vida.  As relações entre adultos e jovens –pais e filhos, mas também professores e alunos– seguem o caminho inverso.  Muitos pais exaustos pelo trabalho e competição diários não têm mais disposição para ser pais.  Querem se divertir e aproveitar a vida, como acham que os filhos fazem.  A infância e a adolescência despertam neles a nostalgia e até a inveja de uma época sem compromissos.  Outros se comportam como camaradas generosos, mas por isso mesmo ausentes, porque arredios aos conflitos necessários ao amadurecimento dos filhos. Seus filhos ficam com o encargo nada invejável de se educar por si mesmos, isto é, pela convivência com os da mesma idade.  Os da mesma idade, por definição, não podem educar uns aos outros –nem para a vida pública, nem para a vida privada.  Eis uma das grandes tragédias do nosso tempo: muitos adultos não querem fazer o papel de adultos, enquanto os jovens não querem nem poderiam fazer este papel, porque ele tem de ser ensinado.    

Pede-se da educação básica que remedie esta situação.  Impossível. A escola está despreparada para lidar com as crianças que está recebendo.  A universidade, tecnicamente, lida com adultos razoáveis e sociáveis.  Mas recebe seus estudantes da mesma escola que não poderia assumir tarefas que são de todos os adultos.  Em um mundo marcado pela evasão diante da responsabilidade, por que a universidade deveria ser a exceção?  A universidade pública não trata a educação como mercadoria –mas já não sabe como poderia ser diferente.  Ela não pode mais contar com um consenso mínimo sobre o duplo papel, público e privado, nem sabe como lidar com os estudantes mal socializados que recebe hoje.   Em particular, no Centro de Filosofia e Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina, quem grita mais alto se impõe. Qualquer reivindicação estudantil reivindica o mérito absoluto.  Quando não estão em jogo bens concretos, porém, ninguém sabe o que querem os estudantes.  Têm pouco ou nada a dizer, até porque os melhores raramente se encontram entre eles.  As orientações e metas do movimento estudantil são uma incógnita, considerando o pouco apreço deste movimento pela palavra e pela argumentação.  As festas nas dependências do Centro se estendem por horas a fio. 

O exemplo vem de cima, como sempre.  Considero coletivamente responsáveis os professores, a direção do centro e a administração superior da universidade por deixarem as coisas chegarem a este ponto, embora a parcela das duas últimas seja maior.  O Centro de Filosofia e Humanas não é o único da universidade a abrigar comportamentos irresponsáveis, e haverá outros equivalentes ou piores dentro da UFSC.  O ensino particular tampouco é um modelo.  Tratar a educação como mercadoria também é uma forma de desistir dela e do mundo.  Mas é claro como a luz do dia que nesse ambiente de total falta de supervisão alguém iria se ferir ou ferir outrem. O suicídio é a decisão mais pessoal e intransferível de todas quantas haja.  Todo suicídio é um mistério.  Contudo, podemos nos perguntar se há ambientes ou circunstâncias que o favoreçam e, principalmente, se nós mesmos estamos implicados no surgimento destas condições.  O discurso anti-repressivo difundido pela área de Humanidades é o sintoma de um grande desinteresse pelo mundo e pela tarefa outrora própria do educador, ao mesmo tempo em que lhe serve como (má) justificativa.  A ideologia ajuda a produzir desorientação, e também resulta dela.

7.4.08

No campo dos outros

Deu no New York Times de hoje:

NEW BRUNSWICK, N.J. — When a fellow student at Rutgers University urged Didi Onejeme to try Philosophy 101 two years ago, Ms. Onejeme, who was a pre-med sophomore, dismissed it as “frou-frou.”

Sylwia Kapuscinski for The New York Times

Rebecca Clipper, a senior in a philosophy class at Rutgers, which has 100 philosophy majors graduating this year.

“People sitting under trees and talking about stupid stuff — I mean, who cares?” Ms. Onejeme recalled thinking at the time.

But Ms. Onejeme, now a senior applying to law school, ended up changing her major to philosophy, which she thinks has armed her with the skills to be successful. “My mother was like, what are you going to do with that?” said Ms. Onejeme, 22. “She wanted me to be a pharmacy major, but I persuaded her with my argumentative skills.”

Once scoffed at as a luxury major, philosophy is being embraced at Rutgers and other universities by a new generation of college students who are drawing modern-day lessons from the age-old discipline as they try to make sense of their world, from the morality of the war in Iraq to the latest political scandal. The economic downturn has done little, if anything, to dampen this enthusiasm among students, who say that what they learn in class can translate into practical skills and careers. On many campuses, debate over modern issues like war and technology is emphasized over the study of classic ancient texts.

Rutgers, which has long had a top-ranked philosophy department, is one of a number of universities where the number of undergraduate philosophy majors is ballooning; there are 100 in this year’s graduating class, up from 50 in 2002, even as overall enrollment on the main campus has declined by 4 percent.

At the City University of New York, where enrollment is up 18 percent over the past six years, there are 322 philosophy majors, a 51 percent increase since 2002.

“If I were to start again as an undergraduate, I would major in philosophy,” said Matthew Goldstein, the CUNY chancellor, who majored in mathematics and statistics. “I think that subject is really at the core of just about everything we do. If you study humanities or political systems or sciences in general, philosophy is really the mother ship from which all of these disciplines grow.”

Nationwide, there are more colleges offering undergraduate philosophy programs today than a decade ago (817, up from 765), according to the College Board. Some schools with established programs like Texas A&M, Notre Dame, the University of Pittsburgh and theUniversity of Massachusetts at Amherst, now have twice as many philosophy majors as they did in the 1990s.

David E. Schrader, executive director of the American Philosophical Association, a professional organization with 11,000 members, said that in an era in which people change careers frequently, philosophy makes sense. “It’s a major that helps them become quick learners and gives them strong skills in writing, analysis and critical thinking,” he said.

Mr. Schrader, an adjunct professor at the University of Delaware, said that the demand for philosophy courses had outpaced the resources at some colleges, where students are often turned away. Some are enrolling in online courses instead, he said, describing it as “really very strange.”

“The discipline as we see it from the time of Socrates starts with people face to face, putting their positions on the table,” he said.

The Rutgers philosophy department is relatively large, with 27 professors, 60 graduate students, and more than 30 undergraduate offerings each semester. For those who cannot get enough of their Descartes in class, there is the Wednesday night philosophy club, where, last week, 11 students debated the metaphysics behind the movie “The Matrix” for more than an hour.

An undergraduate philosophy journal started this semester has drawn 36 submissions — about half from Rutgers students — on musings like “Is the extinction of a species always a bad thing?”

Barry Loewer, the department chairman, said that Rutgers started building its philosophy program in the late 1980s, when the field was branching into new research areas like cognitive science and becoming more interdisciplinary. He said that many students have double-majored in philosophy and, say, psychology or economics, in recent years, and go on to become doctors, lawyers, writers, investment bankers and even commodities traders.

As the approach has changed, philosophy has attracted students with little interest in contemplating the classical texts, or what is known as armchair philosophy. Some, like Ms. Onejeme, the pre-med-student-turned-philosopher, who is double majoring in political science, see it as a pre-law track because it emphasizes the verbal and logic skills prized by law schools — something the Rutgers department encourages by pointing out that their majors score high on the LSAT.

Other students said that studying philosophy, with its emphasis on the big questions and alternative points of view, provided good training for looking at larger societal questions, like globalization and technology.

“All of these things make the world a smaller place and force us to look beyond the bubble we grow up in,” said Christine Bullman, 20, a junior, who said art majors and others routinely took philosophy classes. “I think philosophy is a good base to look at a lot of issues.”

Frances Egan, a Rutgers philosophy professor who advises undergraduates, said that as it has become harder for students to predict what specialties might be in demand in an uncertain economy, some may be more apt to choose their major based simply on what they find interesting. “Philosophy is a lot of fun,” said Professor Egan, who graduated with a philosophy degree in the tough economic times of the 1970s. “A lot of students are in it because they find it intellectually rewarding.”

Max Bialek, 22, was majoring in math until his senior year, when he discovered philosophy. He decided to stay an extra year to complete the major (his parents needed reassurance, he said, but were supportive).

“I thought: Why weren’t all my other classes like that one?” he said, explaining that philosophy had taught him a way of studying that could be applied to any subject and enriched his life in unexpected ways. “You can talk about almost anything as long as you do it well.”

Jenna Schaal-O’Connor, a 20-year-old sophomore who is majoring in cognitive science and linguistics, said philosophy had other perks. She said she found many male philosophy majors interesting and sensitive.

“That whole deep existential torment,” she said. “It’s good for getting girlfriends.”

6.4.08

Devaneios


Um leitor manda um link que ajuda a compreender melhor o recente episódio da prisão em flagrante de um pé de cannabis e outros enrolados, em pleno campo.  Trata-se de http://devaneiosnacalada.blogspot.com
Parece que o patrão vai descer do cinamomo e abrir um inquérito. 

Discutindo Filosofia

Já está nas bancas da cidade o "Discutindo Filosofia" especial sobre ensino de filosofia. Tem gente do campo por lá.

1.4.08

Confiança

O sítio da Assembléia Legislativa fez um relato dos depoimentos de ontem na CPI; abaixo está o trecho referente ao depoimento do Prof. Ronaldo Morales:

O terceiro e último depoimento da noite foi do ex-presidente da Fatec de 2001 a 2004, Ronaldo Morales, que assinou dois contratos da entidade com o Detran - o primeiro, emergencial, em 1º de julho de 2003, válido por 180 dias; e o segundo, em 19 de dezembro de 2003, para entrar em vigor em 1º de janeiro de 2004, com prazo de 60 meses. Morales disse que, na ocasião em que assinou o primeiro contrato da entidade com o Detran, lhe foram apresentados outros quatro contratos - com as empresas Pensant Consultores, Newmark, Carlos Rosa e Rio del Sur. Ele afirmou que, como presidente da Fatec, não era sua atribuição efetuar as negociações sobre o projeto ou elaborar a formatação dos contratos. Essas tarefas estavam a cargo da secretaria executiva da Fundação, ocupada por Silvestre Selhorst.

"Toda a operacionalização dos contratos era feita pela secretaria executiva. Era praxe, os presidentes não se envolvem nos detalhes dos projetos. Ele (Silvestre) era o homem de confiança. Nenhum documento seria assinado sem passar pela secretaria executiva. Ele disse que o contrato estava certo para assinar. Em nenhum momento manuseei ou analisei os contratos, porque não era função do presidente", disse Morales. Ele afirmou também que "a Fatec não procura ninguém" para propor contratos e que o projeto com o Detran surgiu a partir de uma aproximação entre a Universidade Federal de Santa Maria e a autarquia. Segundo Morales, a universidade dispunha de tecnologia para a aplicação de provas de seleção em mais de 400 municípios gaúchos.

O ex-presidente da Fatec afirmou que nunca teve contato com nenhum dos responsáveis pelas empresas subcontratadas. "O único que eu conhecia, mas por ter sido meu professor, foi o José Fernandes (sócio da Pensant)"...”

Era praxe mesmo, pelo que se ouve no campo. Se isso não era função do presidente, são outros contos a serem contados. A notícia da Assembléia não informa quem promoveu, nas palavras do Prof. Morales, a "aproximação entre a UFSM e a autarquia". Tampouco informa se os deputados perguntaram ao Senhor Então Presidente do Detran, Carlos Ubiratan dos Santos, porque foi que deixaram ficar sem prazo para a licitação do substituto da Carlos Chagas. Como é que um índio tão organizado foi esquecer esse prazo, será que perguntaram isso ao Sr. Ubiratan?

O depoimento do Prof. Ronaldo reforça as responsabilidades do Senhor Secretário Executivo, chamado por ele de "homem de confiança". Ainda que mal pergunte, confiança de quem? E quando ele diz que lhe foram apresentados os demais contratos com as "sistemistas", quem lhe apresentou? Carlos Ubiratan, Silvestre ou quem?

Como se diz no campo, nessas coisas é bom ser mais desconfiado que cego casado com mulher bonita! Convivi com o Prof. Morales por alguns anos, ele como Diretor do CCSH, eu como Chefe do Departamento de Filosofia. Acredito no que ele disse na CPI. Acho que nesse barco ele não era remador. Estava na presidência da Fatec, manteve as praxes. Confiou demais no CêTêGê da Fatec. Por vezes, como diz um poeta que não me alembro bem, a delicadeza e o excesso de confiança na patronagem faz a nossa vida se atrapalhar feio.

31.3.08

Esperando os bárbaros


Dom Guina deu o mote e aqui seguimos: veja a tradução de "Esperando os Bárbaros", de Kostantinos Kaváfis, das Edições Nefelibata, SC., por R. M. Sullis, M. P. V. Jolkesky e A. T. Nicolacópulos.


- O que nós esperamos reunidos no mercado?
           Os bárbaros estão para chegar hoje.
- Porque tal inatividade dentro do Senado?
           Por que se demoram os senadores e não legislam?
Porque os bárbaros chegarão hoje.
Que leis farão os Senadores agora?
Os bárbaros quando chegaram legislarão.

Por que nosso imperador levantou-se tão cedo,
e senta-se frente ao maior portão da cidade
sobre seu trono, solene, usando sua coroa?

Por que os bárbaros chegarão hoje.

E o imperador espera para receber o seu líder.
Até mesmo preparou um pergaminho para lhe 
presentear. Lá escreveu-lhe muitos títulos e nomes.

-Por que nossos dois cônsules e os pretores saíram
hoje com suas togas escarlates, rendadas:
Por que usaram pulseiras com tantas ametistas,
e anéis com esmeraldas brilhantes, reluzentes;
Por que apanharam hoje bastões tão preciosos
gravados primorosamente em prata e ouro?

Porque os bárbaros chegarão hoje;
e tais coisas deslumbram os bárbaros.

- Por que os dignos oradores não vêm como sempre
para fazer seus discursos, dizer suas ladainhas?
Porque os bárbaros chegarão hoje;
e eles se aborrecem com eloqüências e discursos.

- Por que começa de súbito essa inquietação
e a confusão? (Que sérios se tornaram os rostos).
Por que esvaziam rápido as ruas e as praças,
e todos voltam a suas casas muito pensativos?
Porque anoiteceu e os bárbaros não vieram.

E algumas pessoas chegaram das fronteiras,
e disseram que bárbaros não existem mais.

E agora o que será de nós sem bárbaros.
Essas pessoas já eram alguma solução.

[1904]

30.3.08

Mocho

Quem espera:
a) sempre alcança;
b) desespera:
c) faz  outras coisas enquanto;
d) esquece;
e) compra um banquinho e vai lidando com os tentos da vida, enquanto isso.

Emas